A chegada do Google Allo e a preguiça do usuário em sair da zona de conforto

Antes de começar a apanhar de todos os lados (o que vai acontecer de qualquer forma), explico: nós – público e imprensa especializada – sempre reclamamos que falta inovação por parte das empresas de Tecnologia, sejam elas fabricantes de smartphones ou desenvolvedoras de aplicativos e ferramentas online. Reclamamos que elas, ou apresentam mais do mesmo, ou trazem apenas pequenas melhorias em seus produtos. E isso, em grande parte das vezes, é verdade. 

No entanto, vale notar que, enquanto reclamamos tanto, desaprendemos também a observar quando uma empresa traz algo, de fato, inovador. O que é o caso do Google Allo. 

A integração do Assistant ao novo messenger é algo revolucionário. Não pelo uso da Inteligência Artificial em si, coisa que o Telegram e o Facebook Messenger já fazem. Mas pelo fato de que a base de dados para buscas e interação é ninguém menos que o Google, uma plataforma que usamos para quase tudo, em boa parte do nosso dia. É um movimento gigantesco e vai mudar a forma como interagimos com nossos amigos e com a Tecnologia em si. 

Claro que não sou louco em dizer que o Assistant e o Allo são as respostas definitivas para os nossos problemas. O primeiro vem com falhas, como o fato de chegar ao grande público com suporte apenas ao inglês, o que pode frustrar a experiência dos mais empolgados. E seu processo de aprendizado leva algum tempo. Sem contar a questão (séria) da privacidade. Já o Allo em si é um messenger simpático e fácil de usar, mas que não traz nenhuma inovação grandiosa que os outros já não tenham. Com a limitação extra de (ainda) não realizar troca de arquivos. 

Queremos uma revolução no mundo da Tecnologia. Mas sem que nada mude

No entanto, a união Allo + Assistant resulta em algo poderoso. Resulta no uso da Inteligência Artificial de uma forma que só víamos em protótipos de universidades, mas que agora estará em nosso dia-a-dia antes do que imaginamos. Resulta em uma conversa mais interativa e prática com nossos amigos e familiares, com mais rapidez em encontrar informações e soluções para aquilo que precisamos. É algo realmente – para usar um termo da moda -  disruptivo. 

A reação do público 

No entanto, devo confessar que foi meio frustrante ver a reação de boa parte do público ao Allo: os comentários eram os de praxe “Ah, mas não tem ninguém usando” (claro que não, o app chegou há dois dias), “ah, mas o WhatsApp é grande demais para ser derrubado” (partindo desse princípio, vamos apenas fazer buscas no Google, usar smartphones da Samsung e Apple e usar o Windows para o resto da vida, já que todos são também gigantes do setor) ou “Ah, já estou acostumado com o WhatsApp / Telegram/ Messenger / ICQ / MSN Messenger” (Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzz...). 

Ou seja, reclamamos da falta de inovação, mas nos negamos a experimentá-la quando ela ameaça a nossa zona de conforto. Procuramos defeitos para justificar a preguiça em testar algo novo, mesmo sabendo que ela tem potencial para se tornar uma coisa legal. E assim continuamos a fechar a porta para coisas legais. Queremos uma revolução, sem precisar mudar nada.

Eu me sinto totalmente à vontade para defender o Allo, porque também já critiquei o Google aqui no AndroidPIT em diversos artigos. Eles erram a mão em várias coisas, na mesma medida em que acertam. Mas que os fãs do WhatsApp, Telegram e Facebook Messenger me perdoem: mas esses messengers ainda estão longe de alcançar o que o Allo fará em pouco tempo. 

Que tal sairmos da mesmice e darmos espaço para algo novo?