Mito ou verdade: o carregamento rápido danifica a bateria do celular?

NextPit Quick Charging
© nextpit

Ler em outras línguas:

O carregamento rápido prejudica a bateria do smartphone? Caso prejudique, por quê? Mergulhei fundo nestas questões com uma pitada de química e trazendo na bagagem todo o repertório atual de tecnologias de recarga rápida. A resposta, como costuma acontecer em tudo na vida, é uma questão de prioridades.

Vez ou outra, encontro comentários como esse quando novos smartphones são lançados: "O carregamento rápido prejudica a bateria e, por isso, é melhor desligar tecnologias de carregamento rápido como VOOC, Quick-Charge e Bolt Charge". O fato de carregar a 30, a 65 ou mesmo a mais de 100 watts colocar mais tensão na bateria parece, na verdade, muito lógico também. Mas será que isso é mesmo verdade ou que a potência é tão significativa que você deveria abrir mão desta prática?

Especialistas em tecnologia repetem esta suspeita com frequência, mas raramente apresentam provas. Por isso, é urgente que verifiquemos a fundo as questões relacionadas ao carregamento rápido e às baterias descarregadas. Para isso, voltei ao meu tempo no ensino médio e tive que ler sobre elétrons e prótons.

Pegue um atalho:

  1. Tecnologia: como é que as baterias recarregáveis funcionam?
  2. Por que a bateria perde capacidade?
  3. Carregamento rápido: prós e contras
  4. Conclusão: não se preocupe tanto!

Tecnologia: como é que as baterias recarregáveis funcionam?

Em praticamente todos os smartphones atuais são utilizadas baterias de íons de lítio, que trabalham durante o uso do WhatsApp, jogos e redes sociais e são recarregados no final do dia. Como o nome da bateria já indica, ela funciona com o movimento de partículas, no caso os tais íons de lítio.

Ao descarregar, os íons de lítio passam do eletrodo negativo para o positivo e liberam um elétron no processo. Estes são devolvidos ao eletrodo positivo por um circuito elétrico e é exatamente isto que é usado para operar os dispositivos eletrônicos. No eletrodo positivo, eles são capturados novamente por diferentes íons metálicos de transição, que - ao contrário dos íons de lítio - não são móveis.

Durante o processo de carga, é preciso garantir que os átomos de lítio recuperem elétrons. Para isso, os átomos de lítio passam do eletrodo positivo para o negativo e são carregados negativamente por um segundo circuito elétrico. Para este fim, eles são intercalados entre moléculas de grafite num processo chamado "intercalação". Quando a tensão desejada, ou máxima, é atingida, este processo é interrompido e a bateria está "cheia" novamente.

Para garantir que o processo de carregamento seja o ideal, as baterias de íons de lítio em todos os smartphones dispõem de controles de recarga equipados com mecanismos de proteção. Embora as baterias de íons de lítio sejam mais sensíveis em comparação com as de níquel-cádmio, que já foram muito comuns, elas têm uma densidade de energia mais elevada e já não são afetadas pelo famoso "efeito memória". Provavelmente a maior desvantagem das atuais baterias de íons de lítio é que os componentes se oxidam com o tempo e a bateria perde capacidade. Vamos dar uma olhada mais de perto!

Por que a bateria perde capacidade?

Se você investiu algum dinheiro em Bitcoin no ano passado e agora está rico o suficiente para pagar por um iPhone 12 Pro Max e deixá-lo na gaveta como se fosse um investimento, você receberá uma resposta desagradável do próximo comprador em cinco anos. Isso porque, mesmo quando não estão em uso, a capacidade das baterias de íons de lítio diminui constantemente desde a primeira carga.

Este "envelhecimento" é causado por processos de decomposição química que danificam o eletrólito, bem como os materiais anódicos e catódicos. Não há muito o que fazer quanto a esta perda de capacidade, só se deve prestar um pouco de atenção à temperatura.

Mais interessante para o nosso problema de carregamento rápido, no entanto, é o envelhecimento em ciclo. Porque além do envelhecimento pelo tempo, uma bateria também perde capacidade após cada carga e descarga. Os processos de desgaste não só têm um impacto negativo sobre os processos químicos, como também atacam os materiais utilizados em torno da bateria. É aqui que podemos finalmente entrar em ação e ver como podemos manter as nossas baterias saudáveis com um pouco de cuidado.

O quão "vazia" está a bateria tem uma forte influência no desgaste mecânico e químico dos materiais. Recarregar abaixo de 10% e na faixa entre 90 e 100% é especialmente crítico. Por isso, a primeira dica é carregar o seu telefone apenas neste intervalo ideal! O nível da corrente de recarga é também crucial, o que nos traz finalmente ao tema da carga rápida.

Carregamento rápido: prós e contras

Embora muitas tecnologias de carregamento rápido tenham sido lançadas nos últimos anos, em princípio são todas iguais: em vez de carregar constantemente a bateria do telefone com a mesma amperagem durante, digamos, três horas, o carregamento é feito em várias etapas.

Quando a bateria está vazia, ela recebe muita energia por um curto período — a conhecida "50% de carga em x minutos" que você lê nos anúncios. O resto do processo de carregamento é mais moderado para manter a temperatura, assim como o desgaste no material e na bateria o mais baixo possível. Como acabamos de descobrir, devemos agora considerar o esforço aplicado sobre os componentes químicos e mecânicos.

Oppo Super VOOC
O VOOC Flash-Charge da Oppo pode carregar telefones a até 125 watts / © NextPit

As baterias de íons de lítio são sensíveis a um problema em particular: o calor! Em um estudo de 2018, descobri que a faixa de temperatura ideal para baterias de íons de lítio de alta densidade de energia está entre 15 e 35 graus. Os sistemas de carregamento rápido precisam evitar temperaturas acima desse valo, e para isso os fabricantes recorrem ao uso de sensores de temperatura.

O controlador de recarga utiliza os sensores de temperatura do telefone e do carregador para garantir que a bateria não seja danificada por superaquecimento. A Oppo afirmou no lançamento do SuperVOOC — operando a até 125 watts —, que nunca alcança uma temperatura acima de 40 graus. Assim, a Oppo parece atingir conscientemente o limite de temperatura para alcançar velocidades de carregamento mais rápidas. Ao mesmo tempo, a fabricante garante que a bateria só perde 20% da sua capacidade após 800 ciclos de carga. Assim, uma bateria de 5.000 mAh teria 4.000 mAh após cerca de 2 anos e meio.

Um segundo problema que vejo em relação à perda de capacidade cíclica é o fato da bateria ser exposta a muita voltagem por um breve momento. No entanto, como disse um engenheiro do iFixit à Cnet, isso não é uma exigência preocupante para uma bateria de íons de lítio, que pode absorver muita energia quando vazia. Ele compara tudo isso com uma esponja, que pode absorver muita água quando seca antes de rejeitar mais água. Por esta razão, a carga rápida é feita ciclicamente e apenas quando a capacidade do componente realmente permite essa quantidade de energia.

Conclusão: não se preocupe tanto!

O carregamento rápido nos smartphones é um exercício de equilíbrio. De um lado está a redução no tempo de carga e do outro está o controle de danos a longo prazo. As fabricantes evitam danos na bateria usando sistemas de carregamento inteligente ou truques como dividir a bateria em duas, mas ainda assim buscam os limites do que é saudável para uma bateria de celular.

Apesar de todos os truques, o desgaste sobre o material é maior quando são utilizadas correntes mais altas. Isto porque mesmo que a voltagem seja reduzida quando a temperatura está muito alta, os circuitos e os componentes da bateria estão no seu limite durante um certo período. No entanto, tanto o técnico do site iFixit entrevistado pela Cnet quanto um técnico do serviço alemão de reparações Kaputt.de não veem isto necessariamente como um motivo para deixar o carregamento rápido de lado. Este último me respondeu da seguinte forma:

Em geral, o carregamento rápido não tem um impacto perceptível na vida útil dentro dos dois anos habituais para os quais foi projetado. Depois disso, você poderá notar um declínio maior na saúde da bateria do que com outros usos.

Portanto, temos de responder "sim" à dúvida de que o carregamento rápido frequente exige mais da bateria e dos materiais. No entanto, é questionável se a capacidade de carga diminui tão significativamente no processo que justifique as preocupações com o componente e a utilização de sistemas lentos de recarga para poupar a bateria. Afinal de contas, ao comprar um smartphone, o objetivo é tirar o máximo de proveito do dispositivo, independentemente de ter gastado 1.000, 2.000 ou mesmo 5.000 reais nele.

Ao usar o carregamento rápido homologado para o aparelho, você em tese precisará deixá-lo parado por menos tempo, podendo aproveitar melhor suas capacidades, já que ele ficará menos tempo ligado à tomada. Se não usá-lo e for mais paciente no dia a dia, poderá notar um pouco mais de autonomia de uso, mas talvez só após dois ou três anos — o que você prefere?

Recarga rápida agora ou menos recargas no futuro?

A relação dos usuários com seus smartphones é muito importante para nós e, por isso, faremos uma enquete sobre o tema em breve.

Artigo seguinte
6 Comentários
Escreva um comentário:
Todas as mudanças foram salvas. Não há rascunhos salvos no seu aparelho.
Escreva um comentário:
Todas as mudanças foram salvas. Não há rascunhos salvos no seu aparelho.

  • Gilmar Luiz 64
    Gilmar Luiz 13/03/2021 Link para o comentário

    Concordo Camila, por isso cada aparelho já vem com seu próprio carregador


  • Penskemen 28
    Penskemen 11/03/2021 Link para o comentário

    Vamos raciocinar pelo mesmo prisma dos fabricantes. Quando um novo modelo é lançado com chip Qualcomm Smapdragon, ou até os novos Mediatek Dimensity (na maioria da vezes), vem equipados com novas tecnologias embutidas no processador para carregamento rápido, daí o raciocínio é lógico, se um fabricante lança esse modelo com esse novo recurso, é lógico que a tecnologia é super benéfíca para o comprador, bem como o aparelho foi projetado e sua bateria foi dimensionada para isso. Agora do que adianta todo investimento e estudo da empresa, se Samsung e Apple tiram o carregador da caixa ? São uns tremendos... desonestos para com o consumidor. Por questão de educação e etiqueta não vou usar um grande palavrão que eles mereceriam ser taxados !

    Rubens Eishima


  • 73
    Jairo rios 10/03/2021 Link para o comentário

    Bom é esclarecedor post.
    Somente ativo o.carregamento rapido quando necessito de bateria com urgência , saindo a noite ou em viagens, normalmente desativo está função, em um ano usei aproximadamente este recurso umas 20 vezes , e sim , o aparelho esquenta um pouco quando uso o carregamento rapido.

    Dario José CastilhoRubens Eishima


  • 32
    Vinicius Guerra 10/03/2021 Link para o comentário

    Já passou da hora de chegar a bateria de grafeno. Até hoje seguem em testes mas sem uma data para chegar. Quem utiliza o smartphone de forma responsável, ou seja, não deixa horas carregando direto , não mexe com o mesmo sendo carregado, difícilmente vai ter problemas. Lido com celular a quase 26 anos e nunca tive bateria estragada e nem estufada. O segredo é carregar e evitar que ela zere. Nesse ponto ela perde a eficiência.

    Caso a bateria esteja quente, desligue o aparelho, deixe esfriar igual radiador de carro. Nesses casos, com o tempo, a bateria já perde a durabilidade naturalmente com os ciclos, por volta de 500 ou mais. Os processadores até evoluíram muito nisso, mas as baterias não, portanto, basta ter uma boa utilização, pois ainda tenho um J1 Mini, aparelho ultra simples com quase 5 anos que faz 5 horas de tela em uso normal.

    Sabendo cuidar. a bateria dura sim. Minha prima tinha um iPhone e carregava direto, quase não saia da tomada, em 6 meses a bateria estufou. Sorte dela, conseguiu trocar gratuitamente, mas eu já havia avisado. São casos até raros de baterias danificadas que em uso severo e errado dão problema.

    Rubens Eishima


  • Rafael Nunes 26
    Rafael Nunes 10/03/2021 Link para o comentário

    Infelizmente acho que não vamos ter um bom avanço em termo de bateria para celular nos próximos anos. Não que não seja possível, mas na questão de custo e tamanho de celular. E realmente, uma bateria durar 2 anos se carregando todos os dias é muito se for parar para pensar. Estamos falando de um componente químico, onde você tem a perda do material com o tempo.

    Acho que se conservar a bateria no modo como se usa, esse é o melhor dos mundos e digo isso utilizando carregador original, esse negócio de paralelo não adianta. Ao invés de deixar a noite toda no carregamento rápido, muda para o normal e deixa ele carregar dessa forma. Isso já outra forma de conservar.

    Rubens Eishima


  • Soterio Salles 57
    Soterio Salles 10/03/2021 Link para o comentário

    Eu só uso carregamento sem fio que é bem mais lento que o normal (rápido) do meu telefone, como carrego quando não preciso do celular dá tempo de sobra pra ele carregar na boa...

    Rubens Eishima

Escreva um comentário:
Todas as mudanças foram salvas. Não há rascunhos salvos no seu aparelho.